As obras de arte que apareceram, constituem não só um maravilhoso recorte da História da Arte humana como propõem, sozinhas, a discussão inteira que o filme traz sobre o papel da mulher e do homem na sociedade.
Vale a pena percorrer as obras citadas, desde a primeira, observada por Katherine, com prazer, no trem que a traz a Wellesley. De maneira invertida, Katherine olha, ou é olhada, por “Les Demoiselles d´Avignon”, de Picasso, uma das mais importantes obras do que se chamaria Arte Moderna. Trata-se de mulheres em um bordel, em posições sedutoras, mas pintadas de forma plana e não com linhas arredondadas, como é o clássico corpo feminino. O espaço entre as linhas é branco, como se fosse um vidro cortado, necessitando do nosso olhar para se mostrar inteiro. O resultado é que elas nos olham e nos solicitam um posicionamento. Katherine as olha e terá que se posicionar durante o enredo do filme, sobre questões centrais do papel feminino.
A arte do século XX será marcada por obras que exigem não a contemplação mas a resposta, o tomar partido, para que a imagem se complete, participando de sua criação.
O primitivismo das formas dos rostos tem duplo sentido: duas das figuras mostram relação com a escultura negra e as outras com a ibérica, confrontando-nos com o sentido totêmico que Picasso coloca em suas obras, quase que se referindo a um ritual, a um culto, a um aspecto selvagem. Esta dualidade tem raízes culturais profundas e nos comove e demanda a todos.
Dos anos 50 em diante, o ser humano seria mais e mais levado a se conscientizar do que ocorre no planeta, na sociedade e consigo próprio, tendo que criar suas próprias referências pessoais e progressivamente descobrir que o sistema é um constructo alienado de seu eu interior, com quem se precisa lidar mas que não nos deve dominar, intimamente. A arte moderna é a própria expressão deste crescimento à força.
O Bisão Ferido, achado em Altamira, na Espanha, e considerado como de 15 mil anos AC é a primeira obra que Katherine apresenta a suas alunas.O roteiro deste filme, embora interessante do ponto de vista de pesquisa, não abre para uma leitura mais ampla das obras de arte, até porque não é o seu propósito.
Buscando se firmar com as garotas que a colocaram em posição desagradável na 1ª aula, Katherine propõe a discussão sobre uma obra inusitada, que não constava na apostila do Dr Staunton: Carcaça, de Chaim Soutine.
Soutine nasceu em 1894 e é considerado o mais dinâmico representante do expressionismo. Morreria em 1943, ou seja, 10 anos antes do momento retratado no filme (1953).
As alunas perdem a referência inicialmente pois não se trata de um artista clássico, integrante da cultura considerada “correta” para aquele estamento social. No entanto, instadas a analisar a obra, encontram aspectos novos: agressividade, erotismo...
Procurando defender a cultura tradicional que consideram correta, afirmam que é impraticável comparar os quadros de Rembrandt a quadros de parede.
Interessante diálogo pois Soutine foi bastante influenciado por Rembrandt e é deste último um quadro - Carcass of Beef (também chamada de Flayed Ox), datado de 1655, que traduz o mesmo tema da Carcaça, de Soutine.
As garotas não alcançam esta comparação mas valeria a pena faze-la. A obra de Rembrandt lembra a força da vida enquanto a de Soutine, que era um admirador de Rembrandt, traduz o desespero pela falta de sentido que vê na vida.
Nascido em 1606, Rembrandt era um mestre da luz e da sombra. Soutine é um representante da Arte Moderna e, portanto, não é considerado “cultura” para o grupo social de referência no filme.
Jackson Pollock é a outra referência de Arte Moderna que o filme evoca.
Katherine leva as alunas para ver sua obra – Greyed Rainbow – finalizada 3 anos antes de sua morte prematura por um acidente de carro. O movimento, a textura, o jogo de cores e formas do quadro é capturado por uma câmera que se aproxima, investigativa, da obra, aceitando o convite de Katherine: “simplesmente olhe”. Não é exigida das garotas nenhuma palavra, nenhuma análise, nenhuma perfomance: simplesmente são convocadas ao prazer de admirar e olhar atentamente uma obra de arte inovadora, como a de Pollock, que traz o inconsciente à tona.
O mundo feminino clássico é retratado neste filme pela profusão de detalhes na decoração, pelo figurino, pelas flores – recorrentes na decoração e até mesmo no presente que as garotas oferecem a Katherine, pelos chapéus, pelos tules e véus, pelo romance, pela música – Mona Lisa, de Nat King Cole, enfim, por inúmeros sinais.
Mas que mundo feminino é este? A maior parte dos símbolos traduz o feminino conduzido pelo social, o feminino que o sistema permite.
A arte moderna, representada por Picasso, trará um feminino mais interno, mais primitivo, quase que requerendo a recriação para de novo se encontrar.
A cena do trem, mostrando Demoiselles d´Avignon, abre esta possibilidade. O filme não chega a este resgate. Ele simplesmente registra as angústias do feminino contestado, inquirido, pressionado ao crescimento e ao autoconhecimento. Mas depois se fecha e não permite mais abertura.
Seria importante sublinhar a tensão proposta, mais do que reconhecer o feminino “encaixotado” que o sistema oferece. O caminho da arte é talvez o mais seguro neste filme pois, de maneira sutil, sensível, vai trazendo à tona temas tão relevantes para a questão do gênero feminino que, se fossem tratados de forma polêmica, não atingiriam ponto nenhum, de tão escondidos e submissos que estavam à ordem vigente.
Katherine traz às alunas uma interessante discussão sobre a obra de Van Gogh, que sofreu preconceito e desprezo por não ajustar a sua obra com os padrões da época e que não conseguiu vender um único quadro enquanto vivo. E sobre "caixas" com reproduções da obra Doze girassóis numa jarra para serem coloridas seguindo um sistema de números, que eram vendidas na época.
Katherine leva as alunas para ver sua obra – Greyed Rainbow – finalizada 3 anos antes de sua morte prematura por um acidente de carro. O movimento, a textura, o jogo de cores e formas do quadro é capturado por uma câmera que se aproxima, investigativa, da obra, aceitando o convite de Katherine: “simplesmente olhe”. Não é exigida das garotas nenhuma palavra, nenhuma análise, nenhuma perfomance: simplesmente são convocadas ao prazer de admirar e olhar atentamente uma obra de arte inovadora, como a de Pollock, que traz o inconsciente à tona.
O mundo feminino clássico é retratado neste filme pela profusão de detalhes na decoração, pelo figurino, pelas flores – recorrentes na decoração e até mesmo no presente que as garotas oferecem a Katherine, pelos chapéus, pelos tules e véus, pelo romance, pela música – Mona Lisa, de Nat King Cole, enfim, por inúmeros sinais.
Mas que mundo feminino é este? A maior parte dos símbolos traduz o feminino conduzido pelo social, o feminino que o sistema permite.
A arte moderna, representada por Picasso, trará um feminino mais interno, mais primitivo, quase que requerendo a recriação para de novo se encontrar.
A cena do trem, mostrando Demoiselles d´Avignon, abre esta possibilidade. O filme não chega a este resgate. Ele simplesmente registra as angústias do feminino contestado, inquirido, pressionado ao crescimento e ao autoconhecimento. Mas depois se fecha e não permite mais abertura.
Seria importante sublinhar a tensão proposta, mais do que reconhecer o feminino “encaixotado” que o sistema oferece. O caminho da arte é talvez o mais seguro neste filme pois, de maneira sutil, sensível, vai trazendo à tona temas tão relevantes para a questão do gênero feminino que, se fossem tratados de forma polêmica, não atingiriam ponto nenhum, de tão escondidos e submissos que estavam à ordem vigente.
Katherine traz às alunas uma interessante discussão sobre a obra de Van Gogh, que sofreu preconceito e desprezo por não ajustar a sua obra com os padrões da época e que não conseguiu vender um único quadro enquanto vivo. E sobre "caixas" com reproduções da obra Doze girassóis numa jarra para serem coloridas seguindo um sistema de números, que eram vendidas na época.
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